Artigos: PAIXÃO DO SENHOR: QUANDO TODAS AS LUZES SE APAGAM | |||
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QUANDO TODAS AS LUZES SE APAGAM HOMILIA DE J.B. LIBANIO PARÓQUIA N.S. DE LOURDES VESPASIANO (MG) - 29.03.2013 Jo 18, 1-19, 42 Depois de fazer essa oração, Jesus saiu com os discípulos e foi para o outro lado do riacho de Cedrom. Havia ali um jardim, onde Jesus entrou com eles. Judas, o traidor, conhecia aquele lugar porque Jesus tinha se reunido muitas vezes ali com os discípulos. Então Judas foi ao jardim com um grupo de soldados e alguns guardas do Templo mandados pelos chefes dos sacerdotes e pelos fariseus. Eles estavam armados e levavam lanternas e tochas. Jesus sabia de tudo o que lhe ia acontecer. Por isso caminhou na direção deles e perguntou: Apesar de ouvirmos essa narração a cada ano, ela sempre readquire uma força enorme e toca-nos em profundidade. Quando ouvia, eu imaginava Jesus como um homem sozinho que, olhando para o mundo que o cercava, começa a perceber que as lâmpadas que iluminavam a sua vida iam-se apagando uma a uma. Olhou para a sua infância, sua adolescência, aquele momento em que era aclamado pelo povo, e, como diz Lucas, quando a multidão se maravilhava com Ele e, de repente, esse mesmo povo que iluminou de alegria a sua vida pública, o rejeita, o maltrata, julgando-o como malfeitor. A luz que vinha do povo se apagara. Ainda lhe sobraram outras, que eram os doze apóstolos, mas, de repente, Judas o trai, Pedro o nega; procura pelos outros, e não os encontra. São mais luzes que se apagam, deixando-o cercado pela mais completa escuridão, pelo ódio e pelo desejo de morte, pela condenação que cai sobre Ele. Será que a luz do amor do Pai também tinha se apagado? Diante dessa noite absoluta, Ele quis dizer para nós, seres humanos, que diante de nossas pequenas noites, quando tantas pequenas luzes se apagam na nossa vida, é bom que nos lembremos dessa escuridão total que o Filho de Deus experimentou. Ele pediu a Deus que afastasse dele aquele cálice, e o Pai não o atendeu. Só lhe restou uma única lâmpada que estava no mais profundo de seu coração, que confiava no infinito amor de seu Pai. Sabia que tudo poderia escurecer e cair sobre Ele, mas existia uma única certeza que o sustentou até aquele instante, quando disse esta última frase: Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!. Restou-lhe a coragem de chamar a Deus de pai quando tudo era noite e morte. Muitas vezes em nossas vidas, precisaremos reter a lembrança desse momento. Naqueles dias de dor, quando esperamos muito alguma coisa que não se realiza, quando bate sobre nós a morte de um filho, um terrível acidente, uma dolorosa decepção. Muitas vezes já lhes repeti, pois fiquei verdadeiramente tocado, a cena daquela mãe, lá em Santa Maria, diante dos quatro caixões de seus filhos mortos no desastre (*). Aquela mulher vivia a noite absoluta da morte de todos os seus filhos numa única noite. Se ela não puder encontrar a luz da confiança total em Deus, a sua vida se esvairá totalmente e, para muitos, só restará o suicídio quando a última lâmpada se apagar. Mas enquanto nos restar a lâmpada eterna da confiança em Deus para a nossa vida, continuaremos caminhando até o último instante, e ainda teremos coragem de nas suas mãos entregar a nossa vida e o nosso coração. Não precisamos esperar pelo momento da morte, mas a cada dificuldade, a cada sofrimento, saibamos nos entregar nas mãos daquele que sempre nos sustenta, colocando diante dele os nossos sonhos, nossas dores, nossos desejos, nossas esperanças, mesmo quando todas as luzes se apagarem e não vislumbrarmos nenhuma solução. Hoje, eu só consigo imaginar aquele Jesus estendido no chão, lá no Horto das Oliveiras, com todas as luzes se apagando diante dele e só lhe restando confiar no seu Pai, que também é o nosso. Amém. (Celebração da paixão e morte do Senhor) |